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Inflação continua pressionada por serviços
Para analistas, indexação da economia e falta de mão de obra limitam queda de taxas
A queda do IPCA e as deflações registradas pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) e pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) em junho, ambas de 0,18%, escondem uma inflação bastante elevada no segmento de serviços.
Levantamento feito com base nos dados dos indicadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, enquanto o IGP-M fechou junho com deflação de 0,18% (e alta de 8,65% no acumulado em 12 meses), o segmento de serviços em geral registrou elevação de 0,44% (alta de 6,34% em 12 meses).
Esse cenário é bastante preocupante, de acordo com analistas, e realça dois pontos que merecem atenção das autoridades econômicas: a indexação da economia e a falta de mão de obra, que estaria acarretando aumentos de salários superiores à inflação. O professor de economia da PUC-SP e economista-chefe da Siemens Brasil, Antonio Corrêa de Lacerda, alerta que esse quadro inflacionário deve perdurar por 18 a 24 meses porque é uma inflação que está se autoalimentando.
Para o sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros, a ameaça da inflação é maior do que as pessoas creem. Para ele, a inflação de serviços não deve cair tão cedo, já que esses preços são ajustados com base na inflação passada e crescem em meio a um quadro de falta de mão de obra que garantirá aumentos reais de salários de determinadas categorias no segundo semestre.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, acredita que serão necessários dois aumentos da taxa básica de juros para desarmar a inflação do setor de serviços, que tende a se elevar com as pressões já contratadas, como os dissídios coletivos do segundo semestre e o ajuste em 2012 de 14% do salário mínimo em termos nominais e de cerca de 7,5% em termos reais.
Domésticas. "Os serviços no Brasil são muito baratos. Com o País se desenvolvendo, esses preços tendem a crescer", diz Lacerda, lembrando uma frase polêmica do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto sobre a extinção da profissão de doméstica.
"Tirando o termo que ele usou, que é muito pejorativo, o fato é isso mesmo. Em que país do mundo se contrata uma empregada doméstica por US$ 300, que era o valor médio antigamente?", questiona.
Para desarmar esta inflação, os analistas dizem que é preciso dar continuidade ao processo de aumento de juros e promover a desindexação da economia. Mendonça de Barros não vê espaço para novas medidas macroprudenciais.
Para Mendonça de Barros, o BC já sinalizou que poderá aumentar a Selic em doses de 0,25 % enquanto for necessário.
O economista-chefe do ABC Brasil acredita que os juros precisam continuar subindo, já que a desaceleração dos salários é mais lenta que a dos demais preços da economia.
Para combater a inflação de serviços, Lacerda diz preferir uma ampla desindexação da economia a um aumento dos juros porque uma alta ainda maior da taxa básica derrubaria a atividade econômica.