- (47) 3488-6088
- (47) 3488-6048
Poupança ultrapassa fundos conservadores
Depois de perder por anos para a inflação, investimento oferece retorno atraente
Depois de perder para a inflação por sucessivos anos, a poupança finalmente se tornou um investimento de retorno competitivo. Embora a caderneta também seja procurada pelos grandes investidores, nela os pequenos acabam encontrando uma das suas melhores opções para investimento. Mesmo com a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 8,75% ao ano - menor valor histórico após a estabilização da moeda -, poucos fundos de investimento conservadores conseguem superar o rendimento da poupança.
No Brasil dos juros baixos e das taxas de administração altas, a poupança virou um instrumento de diversificação de investimentos também para aqueles com perfil mais arrojado e acesso a fundos com taxas competitivas. Nesse caso, a estratégia é deixar uma parte dos recursos na conservadora poupança, conseguindo, dessa maneira, garantir algum rendimento, e se arriscar com um percentual dos recursos disponíveis na bolsa de valores.
Prova de que esse caminho tem sido mais seguido é que, no ano passado, aumentou em 30% a participação na poupança de investidores com depósitos de mais de R$ 1 milhão, segundo o BC. O número de milionários da poupança saltou de 3.822 para 4.980, enquanto o volume de depósitos acima de R$ 1 milhão passou de R$ 14,9 bilhões para R$ 19,8 bilhões entre 2008 e 2009.
No ano passado, o governo Lula tentou por duas vezes mexer na poupança, cuja atratividade ameaçava a indústria de fundos, mas acabou desistindo. Quando os juros básicos sobem, a poupança, que tem retorno atrelado à taxa Selic, fica mais interessante. Alguns tipos de fundo de investimento também são beneficiados pela elevação dos juros, mas pagam taxa de administração e Imposto de Renda. A ideia do governo era passar a taxar cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil. No entanto, segundo analistas, como não houve a temida migração em massa dos aplicadores, esse projeto foi deixado de lado.
"Acabou não ocorrendo a mudança. Mas poucos ficam de olho na taxa de administração dos fundos. Por enquanto, a diferença não é tão grande, mas, se os juros caíssem mais, isso ficaria mais evidente. Agora, porém, eu diria que os juros estão na iminência de subir. Quando isso acontecer, a situação dos fundos melhora um pouco", diz Marcia Dessen, consultora de finanças pessoais. Os especialistas esperam que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumente os juros básicos já na sua próxima reunião, que acontece neste mês.
Segundo o administrador de investimentos Fabio Colombo, dificilmente os fundos com taxa de administração acima de 2% conseguem bater a poupança, independentemente da alíquota de Imposto de Renda. Ele estima que os fundos com taxa de administração entre 1% e 1,5% empatam com a poupança no caso de resgate em menos de seis meses, quando o Imposto de Renda a pagar é de 22,5%. Para resgate em período superior a dois anos, a taxa de administração de equilíbrio está entre 1,5% e 2%.
Colombo afirma que, para concorrer melhor com a poupança, os fundos de investimento DI e de renda fixa passaram a aplicar um pequeno percentual do patrimônio em títulos de empresas que têm rendimento e risco maiores. "Alguns fundos conseguiram elevar os ganhos para até 110% do CDI. Mas o aplicador não sabe disso nem do risco que está correndo. Se alguma empresa tiver problema, ele pode perder bastante", afirma.
Para Dessen, mesmo quando o fundo tem taxa de administração baixa e rende acima da poupança, a diferença é muito pequena aos olhos do investidor para justificar uma série de avaliações e decisões. "Se a diferença de retorno fosse de 0,5 ponto percentual, talvez justificasse esse estudo que ele tem de fazer para correr um risco um pouco maior. A pessoa que investe em poupança só olha para o banco e acabou. Para quem aplica menos de R$ 60 mil, limite de cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, a poupança é o melhor dos mundos", afirma.
Estratégia deve contemplar risco e metas
Com a estabilização da economia brasileira nos últimos 15 anos, o investidor do País amadureceu e passou a se ver diante de muitas opções para guardar e multiplicar o seu dinheiro. No entanto, antes que ele pudesse se familiarizar com todas as alternativas que um mercado financeiro maduro oferece, o cenário mudou bastante devido à inversão da trajetória dos juros. Se, antes, a taxa básica Selic garantia ganhos altos com um risco baixo, agora não está mais assim tão fácil obter bons retornos.
Entretanto, o ganho não é a única variável a ser observada nesse jogo. As decisões acerca da estratégia que cada investidor adotará para os seus investimentos devem ser tomadas antes de se pensar nos rendimentos que cada alternativa oferece, no perfil da sua família e nos objetivos conjuntos para os recursos reservados.
Primeiro, é essencial analisar quanto risco pode-se correr. Isso tem a ver com as fontes de renda familiar (se são fixas ou variam, como no caso de um dos membros ser vendedor e receber comissão), com a presença ou não de crianças pequenas ou de idosos que dependem dos adultos mais jovens e com o tempo que falta para os chefes da casa se aposentarem, entre outros fatores. Aí dá para entender se é melhor ser mais conservador, moderado, ou se dá para se arriscar um pouco mais. No mundo das aplicações financeiras, quanto maior a possibilidade de lucro, maior a de perda. Por isso, ter em mente apenas o quanto se pode ganhar é perigoso e pode trazer frustrações.
Depois, deve-se listar quais são as metas e desejos que se quer realizar com os recursos guardados. Há os de curto prazo, como a aquisição de um aparelho de televisão novo, os de médio - custear um intercâmbio internacional para os filhos ou pagar a sua faculdade - e os de longo, dentre os quais se inclui garantir a tranquilidade na velhice. Só depois de colocar todas essas questões no papel é que o investidor vai dividir o seu dinheiro pelas opções de aplicação existentes. A parcela reservada para emergências tem que ficar em algum investimento de baixo risco e que permita saques imediatos - a poupança, títulos do governo federal ou um fundo de renda fixa, por exemplo. A destinada aos objetivos de longo prazo pode ir para um mais ousado, como a bolsa de valores ou fundos de ações.